No dia 7 de setembro de 2023, pastorais vinculadas à Arquidiocese de Curitiba, entidades sindicais, movimentos estudantis, figuras políticas e a sociedade civil realizaram o 29º Grito dos Excluídos e Excluídas, com o tema: “ Você tem fome e sede de quê?”.
A concentração do Grito foi no Centro de Formação Santo Dias, Vila Torres, e a caminhada seguiu até a Casa de Passagem e Cultura Indígena. O Sindiedutec esteve presente no evento, representado pela Presidenta Rosângela Gonçalves, e Carine Xavier e Letícia Sá, do Núcleo Sindical de Base de Curitiba. “Estamos aqui comprometidas com a luta pela visibilidade às pessoas que não têm acesso a todas as ações do governo, principalmente os povos indígenas. A Casa de Passagem dos povos indígenas precisa ser melhorada, precisa ter recursos, e até o momento, esses recursos não chegam até eles”, pontua Carine.
Os povos indígenas estiveram representados por um grupo da etnia Kaingang. “Nós, povos indígenas, precisamos ocupar nosso espaço em todas as áreas. Nos sentimos excluídos, pois são poucos aqueles que estão conquistando espaço. Somos muito discriminados e isso é uma barreira que impede que a causa indigena ganhe vez e voz na sociedade”, pontuou Silas Ubirajara Donato de Oliveira, Articulador Geral da Casa de Passagem e Cultura Indígena em Curitiba.
Indígenas Kaingang sustentam faixa produzida pelo SINDIEDUTEC para a Terra Indígena de Retomada no Parque do Mate
Além da causa indígena, a população em situação de rua foi uma pauta amplamente debatida na manifestação. De acordo com dados do Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal, Curitiba é a capital do sul com maior número de pessoas em situação de rua, atingindo o número de 3.087. “Um grito por justiça, paz e igualdade, mas também por moradia para os nossos irmãos que estão na rua. Queremos políticas públicas que ajudem nossos irmãos, não somente a receber o pão material, mas também o pão da dignidade, que proporcione a eles uma vida nova. Que eles possam ser protagonistas das suas vidas, para que nós, como igreja, possamos fortalecê-los”, destacou Nilson Carlos Lopes, Secretário da Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de Curitiba.
Marcio Kieller, presidente da Central Única dos Trabalhadores no Paraná (CUT/PR), esteve presente no evento e destacou que, o apoio da entidade na manifestação é uma forma de mostrar que não basta ter eleito um governo democrático e popular, que infelizmente está em disputa na sociedade através dos partidos do centro e da própria direita que querem se ocupar dos espaços, é preciso continuar na luta. “A CUT é mais uma vez parceira do Grito, porque entende que as reivindicações sociais precisam ganhar pauta nas prefeituras, governos dos estados e federal. Esse ano damos o destaque para moradores de ocupações e a comunidade indígena, e isso se reveste numa luta muito importante que precisamos fazer cotidianamente. Ainda existe uma elitização muito forte neste país, e só vamos acabar com essa estrutura se continuarmos organizados enquanto trabalhadores”, destaca Márcio.
Márcio Kieller, presidente da CUT PR, dá entrevista durante o Grito dos Excluídos
A luta contínua por pautas que ainda não avançaram na sociedade é perceptível nos movimentos estudantis, sempre atuantes nas manifestações populares. João Afonso Silva Peixe, estudante do curso de Ciências Contábeis do IFPR, relata sua trajetória nos movimentos. “Eu sou de Santo Antônio da Platina, interior do Paraná, uma das regiões mais pobres do estado. Sou militante, e vejo esse lugar como um espaço para ocupar. O Brasil voltou ao mapa da fome e estamos lutando contra o Marco Temporal. Antes do Brasil da coroa existiu o Brasil do cocar”, enfatizou.
O Grito dos Excluídos
O evento existe para contrapor o simbolismo da independência do Brasil. O movimento convida as pessoas a olhar essa data para além do patriotismo passivo em vista de uma cidadania ativa, como explica o Padre Pedro César Pereira, um dos organizadores do evento. “O evento está expressando o grito daqueles que não tem voz e precisam ser ouvidos na sociedade, como a população LGBTQIAPN+, aqueles que não tem moradia e as mulheres vítimas de violência. Esse ano trazemos os povos indígenas como destaque. Este evento quer tornar visíveis os invisíveis, e dar voz a essas pessoas que possuem um grito de socorro preso na garganta”, explica.
A estudante de pedagogia Dayane Franciele Maia é mãe solo e levou seu filho para o Grito : “Trouxe meu filho para ele entender mais sobre a questão da independência do Brasil. Eu poderia ter levado ele para um desfile cívico do 7 de setembro, mas acredito que este evento aqui é muito mais coerente com os ensinamentos que desejo passar para ele. O sentido de nação que eu acredito está representado aqui, no Grito dos Excluídos e Excluídas, explicou.